Blast from the Past: Spider-Man: Mysterio’s Menace (GBA)

Homem-Aranha, Homem-Aranha… é sempre complicado saber o que esperar dos seus jogos. Assim como a vida do fotógrafo Peter Parker, o currículo videogamístico do cabeça de teia é cheio de altos e baixos. Se a LJN fracassou miseravelmente em suas empreitadas no NES e no GameBoy, a Vicarious Visions pareceu ter melhor sorte ao assumir a marca no GameBoy Color. Mas será que o tigrão tirou a sorte grande na sua estreia no GameBoy Advance, ou este jogo é menos divertido que tomar uma bronca do patrão J.J. Jameson no Clarim Diário?

Com grandes poderes…

A Vicarious Visions já tinha impressionado a todos com dois grandes jogos do cabeça de teia para o GameBoy Color, e já se firmara como uma das grandes desenvolvedoras do GameBoy Advance ao lançar o impressionanteTony Hawk's Pro Skater 2 para a plataforma. Não é surpresa então que, em 2001, a companhia tenha assumido a grande responsabilidade de lançar outro jogaço do amigão da vizinhança para o console portátil do momento.
A história do game é contada em quadrinhos muito bem desenhados, que remetem aos clássicos desenhos do herói. Cada foto parece saída diretamente de uma HQ da Marvel Comics, então é um verdadeiro deleite acompanhar a trama. Logo de cara descobrimos que uma série de eventos aparentemente não relacionados está ocorrendo simultaneamente em New York, e é o Homem-Aranha quem deve investigá-los, claro. Rhino está causando destruição das docas, Hammerhead faz bagunça no centro da cidade, enquanto Big Wheel destrói uma fábrica.
 
A grande mente maligna por trás das atividades dos malfeitores só é revelada no fim da trama (ou quando você lê o nome do jogo na caixa, o que vier primeiro). Como o jogo não é linear, você pode escolher qual vilão prefere encarar. E como cada bandido tem uma fase dividida em várias áreas, é legal ter a possibilidade de alternar entre os níveis de acordo com a sua vontade.

Na teia do Aranha

Já que você assume o controle de um Homem-Aranha no auge da forma física e devidamente treinado na arte de combater o crime, há um vasto arsenal de técnicas à disposição para encarar os meliantes da cidade. Como o design das fases foi brilhantemente elaborado, você provavelmente vai ter que fazer uso de todos os movimentos disponíveis para chegar ao fim da aventura são e salvo.
Nas áreas mais abertas você vai se pegar balançando nas teias pra lá e pra cá, num sistema de controle muito bem calibrado que qualquer jogador com o mínimo de experiência em jogos de plataforma dominará em segundos. Já nas áreas fechadas, como prédios e fábricas, seu melhor método de locomoção é grudar no teto e nas paredes, o que é bem divertido, especialmente porque há dezenas de passagens secretas e atalhos a serem descobertos, sendo possível, portanto, driblar os oponentes e chegar em segurança aos seus objetivos.
É bem legal notar que as fases fogem do óbvio e entregam alguma variedade. É verdade que, ao longo dos sete níveis do game, na maior parte do tempo você está apenas se deslocando do ponto A ao ponto B, mas ocasionalmente surgem objetivos diversos para quebrar a rotina, como o resgate de reféns em um prédio, por exemplo. Para aumentar a vontade de jogar as fases mais de uma vez, há colecionáveis escondidos por todo o cenário comorecompensa àqueles que xeretarem cada canto dos níveis.
Esses colecionáveis incluem novas habilidades e upgrades no uniforme do herói, como uma armadura que melhora a defesa, poder sobre a eletricidade, e até mesmo o uniforme preto do famoso simbionte dos quadrinhos, que restaura automaticamente a energia e o fluido de teia.

Mais bonito que a New York de verdade

Spider-Man: Mysterio's Menace segue até os dias de hoje com um dos jogos com melhores visuais do GameBoy Advance, contando com uma direção de arte exemplar. Os cenários de fundo são lindos e fornecem o senso de profundidade necessário para nunca gerar qualquer confusão. Você realmente se sente explorando uma versão cartunizada da cidade que nunca dorme. Os personagens, por sua vez, são ricamente animados e cada movimento possui vários sprites, de modo que eles ocasionalmente parecem até ter sido capturados em vídeo.
A trilha sonora também é fantástica. As composições na linha techno são frenéticas e deixam o jogador o tempo inteiro no clima da ação. Tudo fica ainda mais imersivo com os bons efeitos sonoros, que te fazem sentir mesmo como se estivesse lançando uma teia, quebrando objetos e esmurrando os malfeitores.
Talvez a única parte que mereça alguma reclamação seja a mecânica de contato no combate corpo-a-corpo, que se resume a apertar freneticamente o botão de soco na esperança de um nocaute. Mas isso não chega a ficar no caminho da diversão, até mesmo porque o legal mesmo é escapar sorrateiramente dos inimigos para acertá-los de longe com sua teia.

…vêm grandes responsabilidades

Spider-Man: Mysterio’s Menace é não apenas um grande jogo do Homem-Aranha, mas também um dos melhores games de ação do GameBoy Advance. É uma pena que nem todas as desenvolvedoras percebam a honra que é trabalhar com um dos personagens mais queridos e populares da cultura pop. Para cada ótimo Maximum Carnage (SNES), temos um terrível Spider-Man: Web of Shadows (Wii). Para cada excelenteSpider-Man 2 (GameCube), temos um sofrívelSpider-Man: Return of the Sinister Six (NES).
Bem que nós poderíamos viver uma nova “Saga do Clone” e encontrar produtoras dispostas a copiar a Vicarious Visions na qualidade de seus jogos do Homem-Aranha. Se tivéssemos por aí mais produtoras empenhadas em fazer bons jogos ao invés de meros caça-níqueis estampados pelo nosso amigão da vizinhança, certamente o Peter reclamaria menos do seu clássico azar do Parker.